quinta-feira, 27 de outubro de 2011

BC precisa explicar jogo dos “s” que indica o rumo dos juros


Decifra-me ou devoro-te. Esse é o novo clima entre o BC e o mercado, sendo o primeiro no papel de esfinge. A ata da última reunião do Copom, em que o BC baixou novamente os juros em 0,5 ponto percentual, será divulgada nesta quinta-feira. A expectativa não é tanto para conhecer os cenários da economia levados em conta pelo Copom. O mais esperado é que a ata venha com uma explicação sobre as mudanças no “plural” e no “singular” dos comunicados oficiais do BC sobre o rumo dos juros.
Simples assim? Parece que não. O ruído de comunicação do BC com mercado demora a passar, mesmo que todos tenham concordado com a última decisão do Copom. Qualquer mínimo sinal de lá é visto em detalhe porque pode deixar mais claro o que passa na cabeça do BC. Mas o jogo de palavras recente levantou dúvidas novamente sobre qual a estratégia para reduzir a inflação para o centro da meta de 4,5%.
Segundo vários economistas e analistas ouvidos pelo G1, o ruído de agora está na expressão “ajuste moderado” que apareceu no comunicado da controversa reunião do Copom de agosto, quando houve o primeiro e inesperado corte da taxa Selic. O “ajuste” veio no singular, levantando uma dúvida se ele se referia ao total da queda dos juros planejada pelo BC ou ao ritmo de redução.
Na ata daquela mesma reunião o BC passou a sentença para o plural “ajustes moderados”, deixando claro então que os juros cairiam em vários passos modestos de 0,50 pontos percentuais. Ao final de setembro, no Relatório de Inflação do terceiro trimestre, o recado foi reforçado porque o plural se repetiu em “ajustes”. O presidente do BC, Alexandre Tombini, chegou a fazer duas aparições públicas para quase “gritar” ao mercado que o “plural” estava valendo, derrubando expectativas mais exaltadas de que o corte poderia ser até maior depois da piora da crise na economia internacional.
Pois não é que no Copom de agora o “ajuste moderado” perdeu o “s”?
Para um analista do mercado “o BC pode estar sinalizando que o “ajuste moderado” se refere a essa reunião, ou seja, a queda de 0,50 pp foi agora, deixando as portas abertas para diversas opções nas próximas reuniões, entre elas, acelerar ou não o ritmo de queda da taxa de juros”.
O mercado futuro de juros, que reflete a expectativa dos investidores sobre as decisões do BC, vem andando meio de lado esta semana. Além da explicação dos “s” na ata do Copom de quinta-fera, muitos esperam o resultado das definições na Europa sobre o salvamento da Grécia e o pacote de capitalização dos bancos europeus em dificuldade.
Assistir a uma queda mais forte dos juros é tudo que a presidente Dilma Rousseff quer. Ela e o governo andam bem preocupados com a andar mais lento da carruagem da atividade econômica no país. Ministros e assessores diretos da presidente, e ela também, já disseram e repetiram que os juros devem estar em um dígito no ano início do ano que vem. Dilma não quer abrir mão de um crescimento de no mínimo 3% ao ano, o que não está garantido ainda se o Brasil sentir com mais intensidade os impactos da crise internacional.
A queda no ritmo da economia no terceiro trimestre conseguiu suavizar os ataques ao  BC pela “ousadia” dele ter baixado os juros tão depressa. Mas não foi suficiente para alinhar as opiniões daqui para frente. “A desaceleração de agora pode mitigar o custo de credibilidade do BC. Mas sobre o comportamento da inflação, todo mundo esperava uma queda este mês por efeito estatístico. O descompasso entre o BC e o mercado não era a queda do IPCA agora. A dúvida que existia, e permanece, é como a inflação vai se comportar no ano que vem. E também não está tão claro quais são as premissas que o BC tem levado em consideração para apontar uma inflação tão mais baixa que o mercado em 2012″, disse um economista ouvido pelo G1.
O Banco Central disse que continua perseguindo a meta de 4,5% para 2012 e espera, por enquanto, uma inflação de 4,7% ao final do ano. Pelo último relatório Focus, com pesquisa coletada pelo BC com agentes de mercado sobre as previsões para os indicadores econômicos, a inflação do ano que vem fechará em 5,60%.  Quem não for devorado pela esfinge poderá descobrir, até lá, quem decifrou o enigma

De Thais Herédia/GLOBO

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