O silêncio e a aparente inação do governo brasileiro, particularmente do Ministério do Esporte, diante da trama internacional de manipulação de resultados do futebol, são no mínimo inadmissíveis.
Entre os 680 jogos com indícios de resultados fabricados por centrais de apostas, com centro em Cingapura, a polícia da União Europeia inclui também partidas realizadas na América do Sul. Logo, o interesse suscitado no mundo pelo futebol brasileiro bastaria, pelo risco implícito, para que o Brasil já estivesse integrado às investigações europeias. Não está, nem consta qualquer outra providência.
Não só pelos precedentes de corrupção em jogos no Brasil, ainda ontem citados por editorial da Folha, mas até pelos envolvimentos dos dois imperadores da CBF em corrupção do futebol internacional --João Havelange e Ricardo Teixeira--, as necessárias providências brasileiras têm de ser do governo. Se entrar no caso, a CBF só deve sê-lo como investigada.
É interessante que, estourado o escândalo na Europa com a prisão imediata de 50 dentre 450 envolvidos já relacionados, o Ministério do Esporte se saísse com esta informação repentina: "prepara um relatório" sobre "a criação de uma agência para regulamentar as apostas esportivas". A notícia, publicada na Folha de ontem por Eduardo Ohata, refere-se a "aproximadamente R$ 2 bilhões que hoje circulam em bancas de apostas no exterior". Sobre a trama descoberta, na qual o futebol "da América do Sul" tem representantes, o ministério silenciou.
Não é só aí que está devendo. Muito.
De Janio de Freitas, colunista, Jornal FOLHA DE SÃO PAULO