segunda-feira, 2 de abril de 2012

A voz de Lula


"Se eu perdesse a voz, estaria morto.” A entrevista do ex-presidente ao jornal Folha de S.Paulo dá a medida do drama que Lula viveu nos últimos seis meses. É um depoimento dramático, emocionado, a seu estilo. Sobre o tratamento: “Eu vim com um tumor de 3 centímetros e de repente estava recebendo uma bomba de Hiroshima dentro de mim. Preferia entrar em coma”. Sobre a morte: “Tem gente que fala que não tem medo de morrer, mas eu tenho. Se eu souber que a morte está na China, vou para a Bolívia”.



A voz, mais que o olhar, é fundamental para persuadir o outro, diz o psicanalista Joel Birman. “Para um líder político, a voz é ainda mais que isso. É um instrumento insubstituível para tocar as emoções, os sentimentos e os desejos do interlocutor e da massa.” Do ponto de vista simbólico e real, a perda da voz seria a perda da condição de liderança de Lula. Pelo ângulo da psicanálise, diz Birman, “perder a voz seria para Lula uma experiência de castração absoluta”. Ele se tornaria “um morto-vivo”.



O presidente que cometeu mais gafes na história do Brasil conseguia quase sempre roubar a cena ao abrir a boca. Num palanque regional ou num congresso internacional. Para políticos administradores, de gabinete, a voz não tem esse poder, é mais acessória. Para Lula, um presidente com 80% de popularidade, é diferente. Sua voz rouca, com erros de português, metáforas de futebol e piadas do povão, era o elo com a massa, na versão do sindicalista exaltado ou do lulinha paz e amor. O Brasil teve outros oradores inflamados. Carlos Lacerda foi um deles, mas se expressava com vigor também pela escrita. Lula não. Exerce uma liderança oral.
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De Ruth de Aquino / Época


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