A reunião do Copom esta semana enfrentará o dilema definido pelo economista José Roberto Mendonça de Barros como “estagflação”. Esse é talvez o momento mais difícil para a autoridade monetária: a inflação em alta recomendaria subir juros; a estagnação, reduzir juros. As taxas devem ser mantidas, mas o Banco Central alertará que está atento à pressão inflacionária.
As previsões do Focus ontem mostraram o calculo médio dos analistas de mercado que são ouvidos pelo Banco Central: um pouquinho menos de crescimento do que estava previsto para esta ano, 3,09%, e um pouco mais de inflação, 5,70%.
Sobre crescimento, é possível encontrar todo o tipo de estimativa hoje no mercado. Tem gente prevendo 2%, tem gente prevendo 4%. E a maioria está em torno de 3%, mas o número tem diminuído um pouquinho a cada semana. A inflação faz o caminho inverso.
O dilema é sempre aquele: se deixar o combate à inflação de lado, o que se colhe é menos crescimento. A inflação reduz a renda, que diminui a capacidade de consumo, que tem sido o grande motor do pouco crescimento.
O BC deve elevar os juros em algum momento no ano, mas não agora. Vai esperar que a inflação ceda um pouco neste futuro próximo para ver quando será necessário elevar os juros. Por enquanto, está testando a capacidade de influir as expectativas através das declarações em que se compromete com o combate à inflação. Pode não ser suficiente.
No crescimento do PIB o governo precisa criar um ambiente favorável aos negócios. Por enquanto, só tem acontecido o uso de palavras. Em Londres, representantes do governo como a ministra Gleisi Hoffmann disseram que os investidores devem vir para o Brasil e investir porque aqui não perderão dinheiro. Bom que façam os convites. Isso é parte do trabalho, mas o passo seguinte é criar oportunidades e um ambiente favorável ao investimento, além de mitigar o risco de mudanças aleatórias do cenário. Risco, todo capitalista tem que correr; o que não faz sentido é aquele derivado de alteração das regras contratuais.
Ontem, foi divulgado que a carga tributária aumentou de novo em 2012. Isso, apesar das desonerações para alguns setores. Comprova-se assim uma tendência de quase duas décadas na economia brasileira. Nos governos Fernando Henrique, Lula da Silva e Dilma Rousseff, a carga tributária tem crescido constantemente. As pequenas reduções só servem para no ano seguinte ela voltar a subir.
Esse é um dos problemas que afetam a capacidade de crescimento de longo prazo. O governo sempre acha um jeito de arrecadar mais. Ele muda a alíquota, cria um novo imposto, muda a base de cálculo, altera o quadro regulatório, tudo para arrecadar mais. Com isso aumenta o peso sobre a economia e a incerteza.
O governo brasileiro tem usado apenas palavras para enfrentar o que precisa ser enfrentado para reverter o quadro de estagflação. É claro que o Brasil já não é tão afetado quanto no passado por crises internacionais, porque o país fez uma parte do dever de casa que tornou a economia mais robusta. Mas também é evidente que o crescimento minguou e o país está com uma resistente inflação em torno de 6%, o que é muito alto principalmente diante das circunstâncias. Isso precisa ser enfrentado não com arroubos declaratórios, mas com um trabalho detalhado para remover os obstáculos do caminho.
Durante o ano passado o governo divulgou uma série de pacotes. Em todos eles, as autoridades afirmaram que o resultado seria elevar para 22% e depois 24% a Formação Bruta de Capital Fixo em relação ao PIB (taxa de investimento), mas ela caiu de 19% para 18%. É preciso mais que palavras para reduzir a inflação e elevar o crescimento.
De Miriam Leitão, jornal O GLOBO
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