terça-feira, 25 de junho de 2013

ANÁLISE-Como as dívidas levaram Eike Batista à beira do precipício


SÃO JOÃO DA BARRA - À medida que o império industrial de Eike Batista desmorona, sua situação cada vez mais se parece com a construção do Porto de Açu, um dos empreendimentos mais visíveis do empresário e que se assemelha a um monte de areia no meio de um pântano.
Para construir o terminal, estaleiro e parque industrial de petróleo e minério de ferro de 2 bilhões de dólares, localizado a 300 km do Rio de Janeiro, o maior navio de dragagem do mundo atravessou a praia e escavou 13 quilômetros de docas entre dunas e restinga. E para manter os usuários do porto secos, a areia está sendo usada em aterros de até cinco metros acima das planícies inundadas do entorno.
O complexo, uma vez e meia do tamanho de Manhattan, tem um outro cais, de 3 km, que pode receber meia dúzia dos maiores petroleiros e cargueiros do mundo ao mesmo tempo.
No entanto, apesar de todo esse trabalho e de um país desesperado por portos e outras infraestruturas pesadas, os investidores consideram quase sem valor as três empresas do grupo EBX com participações em Açu.
Todas as seis empresas do grupo EBX, com exceção de uma, perderam mais de 90 por cento de seu valor desde que atingiram suas máximas, e as ações da OGX Petróleo e Gás, principal empresa do grupo, estão sendo negociadas a níveis que sugerem que um calote é iminente.
Eike, que foi o mais bem sucedido empresário do Brasil durante a década do boom das commodities, tem sido obrigado a ver uma das maiores fortunas do mundo desaparecer. No ano passado, quando a revista Forbes classificou sua fortuna como a sétima maior do mundo, Eike se vangloriou e disse que se tornaria o homem mais rico do mundo.
O Brasil, que durante o boom cresceu em seu ritmo mais rápido em três décadas, estagnou. Conversas sobre um "milagre brasileiro" foram substituídas por protestos contra a corrupção. A fortuna pessoal de Eike encolheu em mais de 20 bilhões de dólares e isso lhe custou o título de homem mais rico do Brasil.
"A situação de Eike é incrível, no sentido verdadeiro da palavra", disse Chris Kettenmann, analista de petróleo e gás da Prime Executions, uma corretora de ações de Nova York. "É espectacular ver o quanto de valor foi corroído." 

Os empreendimentos da EBX em petróleo, construção naval, energia e transporte podem sobreviver em uma versão reduzida. Eike, porém, provavelmente não será o controlador, sendo obrigado a vender sua parte para pagar dívida.
Batista tenta vender ativos de sua companhia de carvão, a CCX, de ouro, a AUX, além de participação na produtora de minério de ferro MMX, disse à Reuters nesta terça-feira uma fonte ligada ao Grupo EBX, em meio à limitação de caixa para executar projetos que requerem grandes cifras.
A EBX recusou pedidos para entrevistar Eike e outros executivos do grupo.
SINERGIAS SE TORNAM PASSIVOS
No ano passado, a "sinergia" e as ligações financeiras entre as empresas do grupo EBX, que ajudaram Eike a vender cerca de 7 bilhões de dólares em ações para investidores minoritários desde 2006, tornaram-se passivos.
Em junho de 2012, a petrolífera OGX revelou que a produção de seu primeiro campo foi menor do que esperado, aumentando as preocupações de que o estaleiro da OSX Brasil SA receberia menos pedidos da OGX, seu principal cliente.
Como a OSX é âncora de Açu, detido pela LLX Logistica SA, do grupo EBX, as ações da LLX também caíram.
E os dominós continuam caindo, graças em parte aos níveis elevados do endividamento das empresas do grupo EBX, e à falta de transparência nos negócios com a holding pessoal de Batista, a Centennial Investments.
Ao mesmo tempo que Eike propôs comprar mais ações da OGX e da OSX para acalmar os investidores minoritários, ele também trouxe ajudas externas...

De Jeb Blount, agência REUTERS BRASIL

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