domingo, 3 de junho de 2012

Derrotado pelo ego, Lula deixa-se vencer tamém pela raiva.

Sempre temi a chegada do PT ao poder. Não só por conta de sua retórica barata, muito bem ensaiada nos grotões do retrocesso, que entoa a mesma arenga ─ desgastada pela credibilidade ─ que celebra as maravilhas de um socialismo redentorista chulo e ultrapassado que não resistiu às ruínas do Muro de Berlim. A principal razão do meu temor sempre foi a selvageria irresponsável e oportunista que marcou a atuação do partido enquanto esteve na oposição.
Quem já teve o dissabor de enfrentar a violência empregada pelos cães de guerra petistas em campanhas eleitorais, inclusive em municípios minúsculos e teoricamente sem relevância estratégica, sentiu na pele os efeitos devastadores da mentira e da injúria, suas ferramentas preferidas de convencimento. E aprendeu que a arma menos contundente por eles utilizada é a da intimidação, em todas as formas concebidas pela canalhice.
Não me surpreende, portanto, o cenário de premeditada desordem institucional protagonizado pela horda petista com o intuito de constranger ministros do STF às vésperas do julgamento do mensalão. Embora previsível, obriga-me a imaginar até que ponto Lula e seus sequazes estariam dispostos a apostar na tensão social como a saída derradeira para socorrer os mensaleiros de estimação e evitar que a biografia do ex-presidente seja para sempre maculada pela pecha de mentiroso.
Depois de mais de trinta anos acompanhando a decomposição ética do partido, e de ter enfrentado cara a cara a ira petista, posso afirmar que eles não hesitariam em investir todas as suas fichas na instalação do caos, se necessário para alcançar seus objetivos. A sociedade brasileira não pode se iludir com a arenga lamurienta na encenação, mas rancorosa na finalidade, repetida pelos lulas, dirceus e genoínos. Nada nas hostes petistas ocorre por acaso. Cada movimento é planejado meticulosamente e ensaiado à exaustão. Tanto assim que a contra-ofensiva ao escândalo do mensalão, sustentada na balbúrdia, só não se consumou graças`à covardia de uma oposição que capitulou ao deixar de propor o impeachment de Lula.
Como prometem agora, também em 2005 estavam preparados para mobilizar a turba enfurecida composta por sindicalistas apelegados, líderes estudantís regiamente compensados, movimentos sociais financeiramente engajados, intelectuais embolorados ainda estacionados no sonho da “turma de 67″, blogueiros financiados pelo dinheiro público, emissoras de televisão agradecidas, mercenários em busca do melhor soldo e políticos aproveitadores que sempre viveram amparados na sujeição abjeta.
Ao transformar a solenidade na Câmara de Vereadores que o homenageou com o título de cidadão paulistano em caixa de ressonância de sua insensatez, reafirmando que o mensalão nunca existiu e que tudo foi um ardil patrocinado pela imprensa e pelas zelites, Lula sabia que embarcara numa aventura perigosa e sem volta. Aferrado à tática de desqualificar quem não se subordeina à sua opinião, elegeu Brasília como o palco perfeito para atacar com ferocidade os jornalistas que não lhe prestam vassalagem. Deixou transparecer com nitidez que envelheceu apenas fisicamente. A alma guarda o mesmo frescor de trinta anos atrás. O ódio a preservou da ação do tempo.
É triste assistir ao prelúdio do ocaso de um líder parido no ventre das massas populares, que tinha tudo para eternizar-se como o governante hábil e pacificador que uniu uma nação sob o manto da liberdade, da igualdade e da brasilidade. Derrotado pelo ego, arrisca-se a entrar para a história como um farsante que, consumido pelo rancor incontrolável, preferiu render-se aos encantos da notoriedade a arrebatar da subsistência precária milhões de famílias.
Da mesma forma que lhe aguçou a inteligência, a raiva companheira lhe solapou a sabedoria. Perdeu o Brasil, perdemos nós. Infelizmente.

De  Mauro Pereira / publicado na coluna do Augusto Nunes, revista Veja

Nenhum comentário:

Postar um comentário