VÍTIMAS LESADAS - A tragédia retratada nos deslizamentos na região serrana do Rio (à esq.), na fome na Somália (acima) e no terremoto seguido de tsunami no Japão: cumprindo seu papel de prestar apoio e serviços em situações de emergência, a Cruz Vermelha do Brasil pediu e recolheu doações, mas nem mesmo os conselheiros da organização conseguiram ter acesso às contas
Sede nacional cobra de filiais explicações sobre fraudes na arrecadação de dinheiro para vítimas de tragédias. Filial do Maranhão afirma que contas eram geridas pelo órgão central.
Os desvios milionários de recursos arrecadados pela Cruz Vermelha no Brasil, geraram uma troca de acusações entre o Órgão Central – a entidade nacional, reconhecida há exatos cem anos pela entidade internacional – e suas filiadas. Na tarde desta terça-feira, notas oficiais da Cruz Vermelha Brasileira e da filial do Maranhão apresentam versões conflitantes sobre a responsabilidade sobre as contas bancárias que receberam recursos para tragédias na região serrana do Rio, no Japão e na Somália. O total desviado ainda não é conhecido.
O desentendimento entre órgãos que, em tese, deveriam trabalhar em cooperação é um indício claro de que algo vai mal nas instituições. A nota da Cruz Vermelha Brasileira traz a seguinte explicação: “Todas as denúncias estão sendo apuradas pelo Órgão Central. As filiais envolvidas nas denuncias, em cumprimento ao Estatuto Nacional, apresentarão seus relatórios de atividades e balanços e os resultados serão apresentados publicamente”. Ou seja: o órgão central dá a entender que está cobrando uma explicação de suas subsidiárias para ‘entender’ o desaparecimento de valores depositados por doadores.
Em matéria de explicação, a filial do Maranhão é um pouco mais incisiva. A nota assinada por Carmen Maria Serra, presidente do conselho diretor naquele estado e irmã do presidente nacional, Walmir Moreira Serra Júnior, diz o seguinte: “A Cruz Vermelha Brasileira solicitou uma conta bancária à filial do Maranhão para que os recursos fossem recebidos e destinados aos cidadãos necessitados, em razão dos inúmeros processos judiciais que determinam bloqueio em suas contas; a preferida conta bancária teve, portanto, sua gestão diretamente conduzida pela Cruz Vermelha Brasileira, Órgão Central, com sede no Rio de Janeiro”.
Carmem Maria Serra devolve a bola para o irmão, que está licenciado desde a semana passada, e cita os bloqueios judiciais de contas que, segundo VEJA apurou, são referentes a ações trabalhistas, totalizando uma dívida que ultrapassa os 40 milhões de reais. No lugar de Walmir, assumiu o vice, Anderson Choucino – braço direito do presidente.
A poeira que sobe do embate entre irmãos embaralha um pouco mais o cenário. A solução ‘caseira’ para driblar o arresto de dinheiro por determinação judicial fez com que o dinheiro arrecadado para os 35.000 desabrigados pela chuva na região serrana, no ano passado; os recursos para a população da Somália, devastada por guerras civis e castigada pela fome; e as doações para vítimas do terremoto no Japão fizessem um ‘tour’ por São Luís, a capital maranhense. nas explicações sobre o destino do dinheiro e o montante desviado, por enquanto, nenhum dos dirigentes avançou um milímetro.
De Leslie Leitão, do Rio de Janeiro, VEJA
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