segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A campanha presidencial vai começar



Na tradição da política brasileira, presidenciáveis têm certo pudor de se movimentar – ao menos publicamente – em anos que antecedem as eleições. Os de oposição temem parecer que torcem contra gestões ainda em curso ou se tornar “vidraça” precocemente. Governistas evitam assumir a chamativa postura de candidato à reeleição com excessiva antecedência. Pode parecer falta de compromisso com o atual mandato. Ou imposição antecipada aos aliados. A política, porém, não para. É nos anos anteriores a grandes pleitos que são construídas candidaturas – e, em 2013, não será diferente. A presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB), os nomes mais cotados até agora para a disputa pelo Planalto em 2014, terão jornada dupla. Um olho em suas funções eletivas, o outro na campanha.
Antes de lançar suas esperadas candidaturas, Dilma e Aécio têm obstáculos importantes a superar no novo ano. A presidente, que conta com ampla base de apoio no Congresso, encontrará dificuldades para lidar com alguns dos partidos aliados. Desafio ainda maior será o esforço para elevar significativamente o nível de crescimento econômico do país. Dilma pediu um “pibão grandão” para 2013 e fará de tudo para consegui-lo. O desempenho da economia em 2013 será crucial tanto para Dilma quanto para Aécio. Se for bom, Dilma entra como franca favorita. Caso contrário, Aécio fortalece seu discurso num possível embate pela Presidência.
Os recentes escândalos envolvendo integrantes do PT também podem ajudar a encorpar a onda oposicionista, mesmo com a expectativa de o “mensalão mineiro”, ligado ao PSDB e envolvendo um ex-governador do partido, o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG), também ser julgado em 2013. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva promete comandar um forte movimento de defesa de seu legado e do PT, com a volta da Caravana da Cidadania pelo país. Lula chegou a dizer que poderá se candidatar a um cargo eletivo em 2014, um sinal claro de que não pretende se curvar às críticas.
O governo terá também reforço externo. O novo ano marcará a entrada de um robusto partido na base aliada. O PSD, criado em 2011 por dissidentes do DEM, deverá ganhar um ministério. Para um governo que, após tantas trocas ministeriais, viu sua relação com partidos aliados azedar em vários momentos, a chegada de uma legenda com 49 deputados é um alívio. O partido chega com a promessa de seu presidente, Gilberto Kassab, de apoiar a reeleição de Dilma.
Além de legendas como PCdoB, PTB e PR, aliados naturais de Dilma em 2014, outro partido deverá oficializar seu apoio à reeleição já em 2013: o PMDB, do vice-presidente Michel Temer. A sinergia entre o PT e os líderes peemedebistas é tamanha que os petistas abrirão mão de lançar candidatos próprios para a presidência do Senado e da Câmara, para apoiar parlamentares do PMDB.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), afirmou em entrevista a ÉPOCA que apoiará a reeleição de Dilma. Mas nada impede que apareçam novas rusgas entre os dois partidos. Aliado do PT no plano federal desde o primeiro governo Lula, cortejado publicamente pela oposição e com pretensões de um dia encabeçar uma candidatura à Presidência, o PSB será um dos principais atores da cena política em 2013. O partido foi o que mais cresceu nos últimos anos e já tem em Campos um nome com pinta de candidato. Seu desejo original, segundo aliados, era lançar-se já em 2014. O realismo político parece ter prevalecido e o levado a ouvir as ponderações dos irmãos Ciro e Cid Gomes. Ambos defendem o apoio à reeleição de Dilma, por acreditar que o PSB só deva pensar em voo solo em 2018. Ao mesmo tempo, setores do PMDB, que apoiaram o PSDB nas últimas eleições presidenciais, como o grupo ligado ao senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), mostram-se entusiasmados com a ideia da candidatura Campos já em 2014. Tudo indica, porém, que Dilma contará com o apoio dos socialistas.
Se confirmada pela realidade às vezes traiçoeira da política, a promessa de Campos de lealdade à presidente Dilma atingirá parte dos planos de Aécio. Ungido como candidato à Presidência por Fernando Henrique Cardoso, no começo de dezembro, Aécio sonha em ter Campos a seu lado em 2014. Se a parceria provar-se apenas um devaneio inviável, alianças do PSDB com outros partidos da base governista são possibilidades mais realistas. Segundo tucanos, a aproximação com o PP e o PDT poderá começar a ser alinhavada em 2013. Tudo pode começar como assunto de família. O presidente do PP, Francisco Dornelles, é primo de Aécio, ambos herdeiros políticos de Tancredo Neves. O PDT, cuja relação com o governo Dilma está desgastada, já é aliado do PSDB em vários Estados. PPS e DEM deverão confirmar a união com Aécio, que se considera pronto para a briga. Ele acredita ter chegado o momento certo de fazer campanha. Seu projeto poderá incluir suceder a Sérgio Guerra na Presidência do PSDB, para ganhar mais visibilidade, por meio das inserções do partido na TV.
Ainda há espaço para candidaturas alternativas, especialmente considerando o bom desempenho de Marina Silva em 2010, quando teve quase 20% dos votos válidos. Ela deixou o Partido Verde em 2011 e tem até outubro para se filiar a um outra legenda ou criar uma nova, se quiser disputar a Presidência.
De Leopoldo Mateus, Revista ÉPOCA

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