domingo, 13 de janeiro de 2013

Após populismo de Chávez, economia da Venezuela tem futuro sombrio


Pedro Palma, um dos maiores críticos da política econômica chavista, diz que, independentemente do novo presidente, país terá de passar por um duro ajuste


Ante a hipótese cada vez mais remota de que o caudilho Hugo Chávez leve a termo um novo mandato, o debate sobre quem tomará as rédeas do país mobiliza a população venezuelana. Independentemente de quem suceda Chávez, quer seja o vice-presidente Nicolas Maduro, quer outro político govenista ou da oposição, uma coisa é certa: o novo presidente liderará uma nação com perspectivas sombrias na economia. A avaliação é do economista venezuelano Pedro Palma, PhD em Wharton, a prestigiada Faculdade de Negócios da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos; professor do IESA, renomado centro de formação de executivos da Venezuela; diretor da consultoria econômica Ecoanalítica e ex-vice-presidente da consultoria Booz-Allen em seu país. Palma também é um dos fundadores da Academia Nacional de Estudos Econômicos da Venezuela.


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O que esperar da economia venezuelana, caso Hugo Chávez morra ou se veja incapacitado de continuar governando?  Tudo depende de a eleição para presidente acontecer no curto prazo, como todos esperam, ou não. E, acima de tudo, depende de quem ganhar. Se o presidente Hugo Chávez não voltar ao governo, a Constituição prevê novas eleições em trinta dias. O Congresso pode argumentar que não há tempo hábil para eleger um novo presidente em um mês e pode tentar postergar. Mas isso ainda é uma hipótese. Considerando que as eleições ocorram em breve, se o vice de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, ganhar, acho difícil que as coisas mudem radicalmente. Ele deve insistir na mesma política populista até o momento em que o estado não aguentar mais. As perspectivas de médio prazo num governo de continuidade do comunismo do século XXI são terríveis. Já Henrique Capriles, candidato da oposição que teve 45% dos votos nas últimas eleições, pode ter alguma chance de fazer as coisas de forma diferente. Mas não acredito que alguma mudança substancial aconteça no curto prazo.
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Quais fatores? Há uma situação adversa na Venezuela que deverá ser enfrentada por qualquer um que chegue ao poder. No médio prazo, se a política populista feita até agora continuar, o futuro do país não é nada animador. O populismo de Chávez dilacerou a economia. A Venezuela está prestes a sofrer um baque recessivo e um aumento muito grande da inflação. E será necessária a desvalorização da moeda, o bolívar. É algo inevitável e que vai causar um choque inicial. A inflação deve chegar a 30% neste ano.
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Uma obsessão de Chávez era reduzir a dependência dos importados americanos. Isso aconteceu? De forma alguma. Atualmente, a Venezuela depende muito mais das importações do que antes de Chávez. A política de desapropriação e de caça à iniciativa privada fez com que os investimentos estacionassem. Os produtores nacionais são completamente desestimulados pelo governo. Eles tampouco podem voltar sua produção ao mercado externo devido à valorização artificial do bolívar, que torna impossível competir no exterior. Todo esse cenário faz com que a dependência do país das receitas do petróleo seja cada vez maior. Com isso, a economia fica muito vulnerável e exposta a turbulências externas, isto é, a situações que estão fora do controle da Venezuela.
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Até quando a Venezuela dependerá do petróleo? A quantidade de petróleo nas reservas da Venezuela é incomparável. Se nos próximos 200 anos o preço do barril continuar subindo, a Venezuela seguirá exportando. O problema é como explorar isso de forma eficiente. Atualmente, o país produz menos de 3 milhões de barris por dia. Esse número é inferior ao de 2007 e é a metade do que a PDVSA havia projetado produzir, cerca de 6 milhões de barris por dia. A estatal anunciou que em 2018 produzirá 5,8 milhões de barris por dia. Para isso, terá de investir 206 bilhões de dólares nos próximos anos. É uma fantasia que não vai se concretizar.
Por quê? Porque a PDVSA está submetida a um processo constante de saque por parte do governo. A empresa já repassou mais de 100 bilhões de dólares a um fundo estatal administrado pela presidência e ninguém sabe para onde vai esse dinheiro. Além disso, o Banco Central é obrigado a injetar dinheiro das reservas internacionais na companhia para compensar esses saques. O BC transformou-se no principal financiador da PDVSA, e isso é surreal. Como ela vai ter mais de 200 bilhões de dólares para investir? Não vai. A situação é gravíssima porque todos sabem que retirar dinheiro das reservas para cobrir gastos estatais põe qualquer país no caminho de uma inflação galopante como aquela que atingiu o continente, inclusive o Brasil, nos anos 1970. Foi justamente o financiamento do gasto público por parte do BC. E a Venezuela está entrando nesse processo.
Os programas sociais são a grande marca do chavismo. E Capriles já afirmou, em campanha, que não acabaria com eles. É possível conciliar o ajuste nas contas públicas com a continuidade desses gastos? Os programas sociais que Chávez implantou guardam muitas diferenças entre si. Uns foram eficientes, outros foram extremamente ineficientes e discriminatórios. Os cidadãos que não apoiam o presidente não recebem nada: nem casa, nem ajuda. Não é possível levar programas dessa forma. Mas isso não significa que eles devem ser extintos – e sim geridos de uma forma mais eficiente. O governo se gaba de ter gasto, nos últimos quatorze anos, 500 bilhões de dólares em investimentos sociais. A cifra é exagerada. Se olharmos detidamente para ela, verificamos que há enorme corrupção. Não se sabe ainda quanto dinheiro foi desviado a outros países, como a Nicarágua, a Bolívia, países do Caribe e Cuba. Logo, se a gestão for honesta, esses programas podem custar muito menos para o estado do que atualmente custam.
Independentemente de quem esteja na presidência, os programas devem continuar por seu efeito sobre a pobreza? O efeito sobre a pobreza tem nuances. O governo devota a esses programas a maior parte da propaganda oficial e tem neles um de seus alicerces. Na verdade, são medidas que funcionam como doações, presentes, ajudas, bolsas, etc. Esses projetos sociais têm impacto importante na vida das pessoas porque representam um alívio. Elas mitigam a miséria. Porém, não estão orientadas a solucionar as causas da pobreza. Se o governo não se interessa em melhorar, de fato, a vida das pessoas por meio da educação, pela formação de capital humano sólido, esses programas acabam se tornando ineficazes. Por outro lado, se trabalhados e modificados, eles podem se tornar um grande veículo de desenvolvimento. (...)

De Ana Clara Costa, Revista VEJA

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