sexta-feira, 19 de abril de 2013

Ex-BC: há tempos não se via uma inflação tão perigosa


Não há um ou dois responsáveis pela inflação, na visão do ex-presidente do BC, Gustavo Franco, porque o aumento de preços é generalizado. Segundo ele, há tempos não se via uma inflação tão "disseminada, perigosa e virulenta". Franco, um dos economistas que entrevistei no meu programa na Globonews, que pode ser visto abaixo, comparou a inflação a uma febre. O juro funcionaria como um antitérmico, mas não cura todas as "patologias". Confusões em áreas diferentes da economia, diz Franco, geram desconforto e inflação.
Para ele, é uma pena combater a alta de preços com um antitérmico. Franco acha que o país está perdendo a chance de colocar as contas públicas em outro patamar. A situação fiscal brasileira é muito ruim, na avaliação do economista.
Para o país crescer mais, Franco diz que é necessário um outro choque de capitalismo. Acha que o país não tem políticas muito amistosas para o capital; "aquele que quer correr risco e viver por sua própria conta tem uma vida difícil". Segundo ele, o Brasil estava saindo do capitalismo de Estado, que tem por característica ser lento, politizado e de baixa eficiência; mas nos últimos anos, no governo Dilma, ocorreu um retrocesso.
Na visão do economista, daqui para frente, a política econômica vai mirar nas eleições. Ele acha que não vão "mexer no barco", enquanto a popularidade do governo estiver alta.
Gustavo Franco e Silvia Matos, da FGV, outra economista com quem conversei, concordam com a ideia de que houve uma guinada ideológica na política econômica do governo Dilma, embora o ministro da Fazenda seja o mesmo desde o governo Lula.
Para Silvia, como a inflação está num patamar muito elevado para um começo de ano e piorou de maneira rápida, a alta dos juros poderia ter sido maior. A elevação foi de 0,25 ponto, como já falamos aqui no blog.
Para o país crescer mais, é preciso, de acordo com a economista, mudar o foco da política econômica. Ela destacou a interferência excessiva do governo em alguns setores. Em relação à indústria, a economista defende focar nos segmentos com vantagem comparativa. Lembrou também que a indústria depende de investimento e de uma perspectiva favorável de capacidade de exportação. Por causa da crise externa, o governo passou a agir de uma forma mais intervencionista, na esperança de que conseguiria resolver todos os problemas. É assim que ela vê. 
A economista estima que 2013 será melhor do que 2012. Mas acha que os problemas estruturais continuarão aí, porque um novo ciclo de reformas só ocorreria num outro governo.


De Miriam Leitão, jornal O GLOBO

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