sexta-feira, 5 de abril de 2013

No Brasil, tomate custa mais caro que nos EUA e na Europa


Excesso de chuva em algumas regiões, estiagem em outras, e a redução da área plantada resultaram no aumento do preço do produto nos últimos meses.


O preço do tomate nunca foi dos mais estáveis devido ao cultivo delicado e trabalhoso do fruto. Contudo, a alta do valor do produto nas gôndolas vem assustando as famílias brasileiras acostumadas a utilizá-lo amplamente nas saladas e no preparo de refeições. A situação ganha contornos alarmantes quando o preço do quilo do tomate ultrapassa valores praticados no exterior. Na Europa e nos Estados Unidos, onde a moeda é mais valorizada e a produção, menor, paga-se menos pelo produto.

Na rede de supermercados Pão de Açúcar, o quilo do tomate (que equivale a cerca de seis unidades) está sendo vendido a 10,58 reais. Em junho do ano passado, a mesma quantidade podia ser comprada por cerca de 3 reais. Em julho do mesmo ano, saltou para 5 reais.

Em outros países, que gozam de agricultura muito menos produtiva que o Brasil, os preços são mais baixos. Na loja on-line do Carrefour na França, a mesma quantidade do Pão de Açúcar brasileiro custa 3,49 euros, o equivalente a 9 reais. Já nos supermercados Sainsbury's, na Grã-Bretanha, o quilo do produto custa 2 libras, ou 5,10 reais.

Nos Estados Unidos, o valor do tomate também tem provocado debates. Muitas têm sido as críticas ao governo Obama porque o preço da libra do tomate (o equivalente a 450 gramas) pode, em breve, saltar de 2 dólares (ou 3,96 reais) para 4 dólares (7,84 reais). O aumento pode ocorrer porque o país recentemente demonstrou interesse em romper um acordo com o México em relação às importações do fruto. O país latino-americano é o principal fornecedor de tomates para os Estados Unidos.

Desde o segundo semestre de 2012 o preço do tomate brasileiro tem se mantido em níveis altos e a questão ganhou proporção maior após a tradicional cantina paulistana Nello's anunciar no Facebook que passaria a banir o item do cardápio enquanto os preços não voltassem ao normal.

Motivo da alta - Três fatores fizeram com que os preços avançassem mais de 100% nos últimos 12 meses: o excesso de chuvas nas lavouras de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, a estiagem no Nordeste e a redução da área plantada em Goiás. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2009, o Brasil produzia 4,3 milhões de toneladas de tomate numa área de 67,6 mil hectares. Em 2012, foram produzidas 3,6 milhões de toneladas numa área de 57,8 mil hectares. Números da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) mostram que, apenas no estado de Goiás, o maior produtor, a redução de área da lavoura de tomate foi de 41,85% em 2012.
Contudo, há expectativas de que a situação melhore no curto prazo. Segundo Carlos Schmidt, gerente da Associação dos Produtores e Distribuidores de Horti-Fruti do Estado de São Paulo (Aphortesp), há previsão de equilíbrio de preços dentro de 40 dias. "O ciclo entre o plantio e a colheita do tomate gira em torno de 100 a 120 dias. Assim, como as chuvas em São Paulo e Minas pegaram a plantação no início do ciclo, a situação deve se normalizar em até 40 dias", afirmou.

Inflação - Apesar de o país ter a expectativa de colher neste ano uma safra recorde de 185 milhões de toneladas de grãos, os preços dos alimentos - liderados pelo tomate - foram o principal foco de pressão inflacionária nos últimos 12 meses. Chegou-se ao ponto de o comportamento dos preços do tomate, da batata, do arroz e do feijão serem o fiel da balança na decisão do Banco Central (BC) de aumentar a taxa de juros para que a inflação não supere o teto da meta de 6,5% prevista para este ano.
Em 12 meses até março, os preços dos alimentos ao consumidor descolaram da inflação em geral e subiram mais de 30%. Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)-15 subiu 6,43% até março, os preços das frutas, verduras e legumes acumularam altas de 33,36%, revela um estudo feito pelos economistas da Universidade de São Paulo (USP), Heron do Carmo e Jackson Rosalino.

No Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) de março, o fruto liderou o ranking de pressões de alta do indicador na capital paulista. O preço do item subiu 18,25%, praticamente o dobro da alta de fevereiro, de 9,25%. No acumulado do primeiro trimestre, o tomate apresentou elevação de 70,9% e nos últimos 12 meses encerrados em março uma alta impressionante de 104,11%.

Caso o problema da safra não se resolva no curto prazo, não deve demorar para que o governo considere o tomate um dos inimigos mortais da economia. Resta saber se repetirá o exemplo do ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen, que declarou guerra ao chuchu quando o preço do alimento começou a subir descontroladamente. No final da década de 1970, o ministro chegou a culpar o insosso legume pela inflação que atormentava o país.


De economia, revista VEJA

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