Um desavisado que ligasse a televisão no último 30 de junho e visse a
simbólica Praça Tahrir, no Cairo, apinhada de manifestantes acreditaria
ter voltado a 2011, na alvorada da Primavera Árabe. Naquele ano, em 25
de janeiro, data que ficou conhecida no país como “dia da revolta”,
milhões saíram às ruas para tirar do poder o ditador egípcio Hosni
Mubarak, que governara por 29 anos. Desta vez, mais de 14 milhões de
pessoas, empunhando bandeiras do Egito, gritavam “Erhal!” (“Saia!”, na
tradução do árabe) para Mohamed Morsi, primeiro presidente eleito
democraticamente na história do Egito. O dia escolhido para gigantescas
manifestações foi simbólico: um ano depois da eleição de Morsi. Quem
reuniu as multidões foi o movimento Tamarod (rebelde, na tradução do
árabe), formado em abril por quatro jovens ativistas que arrebanharam 22
milhões de assinaturas para um abaixo-assinado on-line pedindo a
antecipação das eleições e a saída de Morsi. Para eles, a primeira
experiência democrática do Egito não dera certo. A revolução que
derrubou Mubarak, diziam eles, deveria recomeçar do zero.
Morsi representava o movimento islâmico Irmandade Muçulmana, até então o mais beneficiado pelo fim da ditadura Mubarak. Na semana passada, milhões atribuíam à irmandade a responsabilidade por tudo de errado que ocorrera no Egito no último ano. A multidão que tomou as principais cidades egípcias era heterogênea. Religiosos rezavam, laicos cantavam, pessoas caminhavam com sandálias de plástico e outras exibiam roupas de grife. Camponeses e executivos protestavam lado a lado. A grande maioria eram cidadãos de classe média, a principal fatia social do Egito e a que mais teme a islamização do país. As Forças Armadas perceberam o perigo de divisão interna e provaram, para quem ainda duvidava, que a democracia egípcia era tutelada. O Exército deu 48 horas para Morsi entrar em acordo com a oposição. O Tamarod só cogitou negociar caso Morsi deixasse o cargo. Ele chegou a propor um governo de coalizão, mas tarde demais. Na quarta-feira, dia 3, tanques e blindados tomaram as ruas, enquanto helicópteros e caças sobrevoavam o Cairo. “O governo falhou em cumprir as demandas do povo do Egito”, afirmou em pronunciamento ao país o general Abdel Fatah al-Sisi, chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito. Al-Sisi encerrou um ano e três dias da inédita experiência democrática egípcia com o receituário clássico de um golpe militar: depôs o presidente, colocou-o em prisão domiciliar, suspendeu a recém-criada Constituição, dissolveu o Parlamento e prendeu líderes da Irmandade Muçulmana. Adli Mansour, presidente do Tribunal Constitucional, assumiu interinamente a Presidência. (...)
Morsi representava o movimento islâmico Irmandade Muçulmana, até então o mais beneficiado pelo fim da ditadura Mubarak. Na semana passada, milhões atribuíam à irmandade a responsabilidade por tudo de errado que ocorrera no Egito no último ano. A multidão que tomou as principais cidades egípcias era heterogênea. Religiosos rezavam, laicos cantavam, pessoas caminhavam com sandálias de plástico e outras exibiam roupas de grife. Camponeses e executivos protestavam lado a lado. A grande maioria eram cidadãos de classe média, a principal fatia social do Egito e a que mais teme a islamização do país. As Forças Armadas perceberam o perigo de divisão interna e provaram, para quem ainda duvidava, que a democracia egípcia era tutelada. O Exército deu 48 horas para Morsi entrar em acordo com a oposição. O Tamarod só cogitou negociar caso Morsi deixasse o cargo. Ele chegou a propor um governo de coalizão, mas tarde demais. Na quarta-feira, dia 3, tanques e blindados tomaram as ruas, enquanto helicópteros e caças sobrevoavam o Cairo. “O governo falhou em cumprir as demandas do povo do Egito”, afirmou em pronunciamento ao país o general Abdel Fatah al-Sisi, chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito. Al-Sisi encerrou um ano e três dias da inédita experiência democrática egípcia com o receituário clássico de um golpe militar: depôs o presidente, colocou-o em prisão domiciliar, suspendeu a recém-criada Constituição, dissolveu o Parlamento e prendeu líderes da Irmandade Muçulmana. Adli Mansour, presidente do Tribunal Constitucional, assumiu interinamente a Presidência. (...)
De Rodrigo Turrer, Júlia Korte, ÉPOCA
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