Autor de denúncias que derrubaram a cúpula do Banco do Nordeste procura novamente o Ministério Público e afirma que o estrago aos cofres públicos foi bem maior do que o que denunciara antes
As revelações trazidas por ÉPOCA no início de junho sobre desvios de mais R$ 100 milhões no Banco do Nordeste provocaram uma limpeza em sua cúpula. No primeiro dia útil, o então chefe de gabinete da presidência do banco, Robério do Vale, foi exonerado. A reportagem revelara que três das empresas que lesaram o banco, com notas ficais falsas, segundo dados de auditoria interna, eram de seus cunhados. Oito dias depois, o banco confirmou um esquema na cidade de Limoeiro do Norte, envolvendo recursos do Pronaf, exposto no mesmo texto de ÉPOCA. No dia seguinte, deixaram seus postos o diretor de Gestão do Desenvolvimento, Alencar Sydrião Junior, responsável pelos recursos do programa, e Isidro de Siqueira, diretor de Controle e Risco. No mesmo dia, com sua saída dada como certa no Ministério da Fazenda, o presidente do BNB, Jurandir Santiago, entregou o cargo.
O autor das denúncias que levaram o Ministério Público, a Polícia Federal, a Controladoria-Geral da União (CGU) e o próprio banco a investigar os desvios diz que ainda não havia revelado tudo o que sabe. O ex-gerente de negócios Fred Elias de Souza, transferido para o Serviço de Atendimento ao Consumidor do banco, decidiu procurar novamente o promotor Ricardo Rocha, na última terça-feira. Fez novas denúncias. No depoimento, Souza diz que, ao final das investigações, os órgãos de fiscalização chegarão a um total de R$ 2 bilhões em operações fraudulentas.
Apenas no Maranhão, Souza “acredita que o rombo passe de R$ 1bilhão”. Na Superintendência da Bahia, segundo Souza, existe um esquema de desvios envolvendo a família Meira. Ele afirmou ao promotor que o escritório Meira Projetos e Consultoria, de José Nilo Meira, irmão do superintendente Nilo Meira, fez projetos com indícios de fraudes, para empresas que buscavam financiamentos no banco, aprovados “com conhecimento do diretor de Negócios do BNB, que é da Bahia, o diretor (Paulo) Ferraro”. Paulo Ferraro, que desde a semana passada ocupa ao mesmo tempo os cargos de diretor de Negócios e presidente do banco, também é acusado em outro trecho do depoimento. “Uma empresa foi mencionada no relatório da CGU de 2010, que revelou indícios de fraude nas garantias ofertadas numa operação de quase R$ 500 milhões, cujos imóveis dados como garantia só cobriam R$ 300 milhões. Tudo foi feito com a conivência do diretor Ferraro”, afirma Fred de Souza.
O dono da empresa Meira Projetos, José Nilo Meira, rebate as acusações. Diz ter sido funcionário do banco por 21 anos. Afirma que faz projetos desde 2001, quando seu irmão ainda não era superintendente. “O senhor Fred Elias está agindo com leviandade ao mencionar o meu nome e da minha empresa. Vou mover uma ação de danos morais contra esse cidadão”, afirma. O presidente Paulo Ferraro e o superintendente da Bahia, Nilo Meira, preferiram não se manifestar. Em nota, a direção do Banco do Nordeste disse que todas as denúncias que chegam são apuradas e que tomará providências, caso alguma suspeita seja confirmada. O promotor Rocha afirma que as novas acusações merecem ser investigadas. “As denúncias do Fred, muitas já comprovadas, estão desmontando um esquema criminoso que feria de morte o BNB.” Se há mais fumaça, pode haver mais fogo.
De Revista Época
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