quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Investimentos da União não chegam à metade do previsto

Para 2011, a previsão para o PIB foi mantida em um crescimento de 4,5%


Governo só investiu 39,7 bi de reais até novembro, dos mais de 90 bi previstos para 2012. Números impactam diretamente no crescimento - e derrubam PIB




Até novembro, o governo federal investiu apenas 45% dos 90,4 bilhões de reais previstos para este ano. O baixo ritmo dos investimentos da União tem impacto direto no desemprenho da economia brasileira – ou seja, contribuiu para o “Pibinho” de 0,6% registrado no terceiro trimestre de 2012. É o que mostra levantamento da ONG Contas Abertas divulgado nesta quinta-feira. Desde o início de seu mandato, Dilma Rousseff tinha o diagnóstico de que não poderia contar apenas com o aumento do consumo e do endividamento dos brasileiros para embalar a economia. A meta era elevar a taxa de investimentos para 24% do PIB, um valor que seria condizente com a ambição de crescer ao ritmo de 5% ao ano. O governo chegou a anunciar um plano abrangente de estímulo aos investimentos na infraestrutura, com a promessa de privatizar portos e estradas. O mandato de Dilma se aproxima de sua metade e, até o momento, o plano não deslanchou. De acordo com os números divulgados pelo IBGE, os investimentos estão em queda há cinco trimestres consecutivos, na comparação anual.
Entre janeiro e novembro, o governo investiu 39,7 bilhões de reais. Desse montante, cerca de 23,4 bilhões de reais foram provenientes de restos a pagar, ou seja, compromissos assumidos em anos anteriores, mas não pagos nos exercícios. Do total de recursos autorizados para o ano, 58,8 bilhões de reais foram empenhados, ou seja, reservados em Orçamento.
O montante aplicado neste ano é 10,5% maior do que o do mesmo período de 2011 (35,9 bilhões de reais), mas 8,3% menor do que o de 2010, quando os investimentos chegaram à cifra recorde de 43,3 bilhões de reais e a economia cresceu 7,5%. Em 2012, a nova projeção do ministro da Fazenda para o PIB é de 2%. Segundo Mantega, o governo aguarda os indicadores do quarto e último trimestre do ano para eventual alteração na previsão. "Dependemos do quarto trimestre que está em curso", disse.
Contudo, depois do terceiro trimestre ter apresentado crescimento de 0,6% na comparação com o segundo trimestre deste ano, analistas e investidores do mercado financeiro diminuíram mais uma vez a expectativa de crescimento da economia e baixaram a projeção de fechamento do PIB neste ano de 1,54% para 1,27%.
O professor de economia da Universidade de Brasília, Flávio Basílio, ressalta que o investimento público é muito importante para a dinâmica do PIB. “Normalmente, o setor privado não tem dinheiro para realizar grandes obras, e o setor público é que complementa e torna possível o investimento”, afirma. Assim, a relação entre o desempenho do investimento público e do privado é essencial para a expansão da economia. Basílio ressaltou ao Contas Abertas outro problema: “O estímulo da nossa economia tem ido muito para o lado do consumo. O governo baixou o IPI, tem baixado os juros, o que estimula a demanda. A nova necessidade é tratar dos problemas estruturais, dos investimentos públicos”, afirma.
Além disso, pouco foi feito para retirar barreiras como a complexidade tributária. Para completar, a interferência do governo em diversos setores, como nos bancos e nas empresas do ramo de energia, injetou uma boa dose de desconfiança nos investidores nacionais e estrangeiros. Empresário sem confiança no futuro não investe. O efeito é que, apesar de os juros e de o desemprego nunca terem sido tão baixos, a economia permanece virtualmente estagnada há dois anos. 
Segundo o economista Newton Marques, é primordial que o investimento público seja retomado para que a economia seja aquecida. “O setor público precisa sinalizar positivamente para o setor privado e isso só acontece por meios dos próprios investimentos. O setor privado acompanha o ritmo de investimento do setor público”, explica. Marques acrescenta que, para isso, os investimentos da União precisam apresentar mais regularidade. “O governo precisa implementar medidas de longo prazo e não apenas apagar incêndios. A ideia é que tenhamos uma estratégia, um planejamento, como o plano de desenvolvimento dos militares, por exemplo. Os investimentos são insuficientes”, ressalta.
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a retomada do investimento já começou. "A recaída da crise internacional que se deu em 2011 e 2012 prejudicou o ritmo dos investimentos neste ano”, afirmou. "Qualquer economista iniciado sabe que, em períodos de crise importantes, o investimento é o primeiro a se retrair e o último a voltar, depois que o consumo e a indústria reaceleram", completou. O ministro comparou ainda este ano a 2009, quando o investimento só foi retomado no último trimestre. Mantega afirmou também que, desde que assumiu a Fazenda, em 2006, não faltaram investimentos até 2011.
Enquanto os investimentos não apresentaram regularidade entre 2010 e 2012, os gastos com despesas correntes só cresceram nos últimos sete anos. Em valores constantes, em 2006, 462,5 bilhões de reais foram despendidos para esse tipo de gasto. Neste ano, os valores chegaram a 671,4 bilhões de reais.
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De Contas Abertas, Economia, Revista VEJA

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