Brasília e Fortaleza — A pior
seca dos últimos 50 anos no Nordeste transformou-se em mais um
ingrediente na disputa política entre o governo federal e o governador
de Pernambuco, Eduardo Campos, provável candidato do PSB à Presidência
em 2014. Na capital cearense, a presidente Dilma Rousseff anunciou uma
série de medidas, liberou R$ 9 bilhões para crédito aos agricultores
afetados pela estiagem e lembrou, diante de todos os governadores da
região, que as ações tomadas pelo PT durante os últimos 10 anos
amenizaram o impacto da falta de chuvas. “Conseguimos impedir que as
populações aqui enfrentassem todas as perversas consequências que sempre
vimos sendo retratadas na literatura, na prosa e no verso dos
sanfoneiros”, disse Dilma.
A presidente afirmou que, apesar dos
graves problemas de produção, não foram vistos saques, e as pessoas não
passam fome de maneira aguda que as obrigue a buscar alternativas para
preservar a própria sobrevivência. “Podemos dizer que atingimos nosso
objetivo de preservar a população, mas os desafios de enfrentar as
consequências na esfera produtiva persistem”, declarou.
O pacote do governo federal é extenso. Além dos R$ 9 bilhões, serão
contratados carros-pipas (o número pula de 4,4 mil para 6,1 mil este
ano, e entregues mais 130 mil cisternas até julho, que se somarão às
270 mil já instaladas. Outras 750 mil serão entregues até a Copa do
Mundo de 2014. Dilma também autorizou a prorragação dos débitos de
todos os produtores de municípios em estado de emergência com dívidas
contraídas de 2012 a 2014 por mais 10 anos, com o pagamento da primeira
parcela em 2016.
Principal crítico ao governo federal entre
todos os presentes, Eduardo Campos não ficou muito convencido com as
medidas anunciadas pela presidente. “As propostas continuam as mesmas, o
que avançou mesmo foi a seca. É preciso olhar com atenção ao produtor,
ao habitante do semiárido. É preciso olhar como vamos recompor essa
economia devastada com a maior seca dos últimos 50 anos”, comentou
Campos após o evento.
Durante o discurso de Dilma, não foram
permitidos apartes, embora ela tenha sido bastante dura quanto à
importância de uma parceria mais efetiva entre os governos federal e
estaduais. Lembrou que, no Nordeste, é fundamental a construção de mais
silos para armazenar grãos e que o planejamento para essa estocagem
seja feito no período da entressafra, e não da safra, por ser mais
barato.
Dilma também lembrou a importância de escoar a
produção. Nesse momento, o alvo das palavras era claramente Eduardo
Campos. A presidente afirmou que é fundamental uma parceria entre
portos públicos e privados para a exportação da produção. Na semana
passada, durante audiência no Senado para debater a Medida Provisória
dos Portos, o governador socialista pediu um tratamento diferenciado
para a unidade de Suape, em Pernambuco. A MP prevê que todas as
instalações do país passarão a ser administradas pela União. “Temos que
saber que há problemas de logística. Não é possível a gente supor que a
safra de grãos do período tenha condições de ser escoada toda por via
rodoviária, sem melhorias no transporte de cabotagens e marítimo.”
Segundo
a presidente, um levantamento feito com os portos públicos mostra que
eles são capazes de estocar 10 mil toneladas de grãos. Com a ajuda dos
portos privados, a capacidade sobe para 70 mil. “Precisamos de parceria
com os governadores para resolvermos juntos os problemas de
logística”, cobrou a presidente, em recado a Campos.
Discurso
Antes
da reunião, os governadores da região se encontraram para afinar o
discurso de reivindicações. Unidos pelas condições difíceis do Nordeste,
mas distantes por conta das pretensões presidenciais de 2014, Eduardo
Campos e o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), encontraram-se em um
primeiro momento a portas fechadas, antes da chegada dos demais
administradores estaduais. Outro governador eleito pelo PSB, Wilson
Martins, do Piauí, endossou as críticas ao governo federal, embora com
menos contundência do que Eduardo Campos.
Segundo Martins, desde
a última reunião do Conselho da Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene), realizada em Salvador no ano passado, recursos vêm
sendo liberados e obras estão em execução. Ainda assim, na opinião de
Martins, o governo precisa ser mais ágil. “Houve avanços em relação a
investimentos na captação de água no Nordeste e o PAC Seca tem andado,
embora seja em um ritmo aquém da necessidade da população e das
exigências do povo”, afirmou.
Como resposta, Dilma anunciou a
desburocratização no repasse de recursos. Pelas novas regras, 30% das
verbas serão liberadas logo após a licitação das obras. Além disso, a
documentação para garantir o montante só será cobrada antes da liberação
da última parcela, para evitar que a burocracia emperre o processo.
No
fim da tarde, a presidente participou, ao lado de Cid Gomes, da
inauguração de uma escola técnica estadual. Na ocasião, reforçou o
desejo de que os royalties do petróleo sejam integralmente destinados à
educação.
De Paulo de Tarso Lyra, Rosália Rangel, Glauce Gouveia, jornal DIÁRIO DE PERNAMBUCO
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