sábado, 18 de maio de 2013

"O ENIGMA DA ALIANÇA SEM COMPROMISSO"


Nunca antes na história deste País - parafraseando o ex-presidente Lula -, um governo conseguiu tamanha base de sustentação, um arco de alianças partidárias de tal ordem que incorpora mais de 80% dos parlamentares. E mesmo assim, com a quase totalidade do Congresso “em suas mãos”, teoricamente alinhada sob o seu comando, não consegue fazer valer qualquer matéria ou projeto encaminhados para votação naquela casa. Do apoio a um novo código florestal a mudanças na legislação sobre os royalties do petróleo, nada é passível de consenso entre os membros da bancada majoritária. Ao contrário: serve para longas e arrastadas desavenças, que deixam visível o descontentamento com a maneira Dilma de fazer política - sem tapinha nas costas, ignorando os pedidos muitas vezes imorais das siglas, arredia a negociatas rasteiras. O enigma da aliança descompromissada, sem serventia nas horas-chave, se repete rotineiramente como uma sina cruel. E voltou a acontecer de maneira deprimente na semana passada, durante a votação da medida provisória que almeja modernizar os portos do Brasil. O que se viu, mais uma vez, foi o pior de um colegiado consumido pela prática da barganha. A insubordinação, a cobrança escrachada de contrapartidas, o toma lá dá cá ilimitado chocaram o País. Não importa nada além do interesse pessoal de cada político, que se sobrepõe sem constrangimento ao interesse maior da nação. O fisiologismo em larga escala tomou conta e a composição que garantiria a governabilidade está inapelavelmente à mercê da falta de princípios e dos podres projetos eleitoreiros daqueles legisladores. O único ganho visível que o governo parece angariar dessa camarilha é o tempo a mais no horário de campanha política na tevê. Será que uns minutos extras de propaganda valem tamanho desgaste? O custo tem se mostrado demasiadamente alto: distribuição de ministérios e de verbas para saciar um apetite por controle da máquina que não cessa. A presidenta Dilma precisa encarar de vez a realidade e partir para uma nova tática. Os congressistas, em sua maioria, definitivamente não são governistas. Muito menos se importam de estar a serviço do País. Preferem antes chafurdar na lama de lobbies financeiramente mais rentáveis que viabilizam seus planos de poder.


De Carlos José Marques, diretor editorial, revista ISTO É

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