sábado, 6 de julho de 2013

MT oferece salários de R$ 30 mil para fixar médicos no interior

CUIABÁ (MT). Distantes dos grandes centros e com pouca estrutura na rede pública, cidades do interior de Mato Grosso oferecem salários de até R$ 30 mil para atrair e fixar médicos. E, mesmo assim, chegam a ficar meses sem profissionais em suas unidades públicas.

— Esta é uma dificuldade comum em todas as cidades do Vale do Araguaia. A distância, os problemas de locomoção, as estradas de chão, tudo dificulta. E isso acaba inflacionando o salário deles. O jeito é pagar — diz o prefeito de Novo Santo Antônio (MT), Eduardo Penno, do PMDB. A cidade tem 2.000 habitantes e fica a 1.150 quilômetros da capital Cuiabá. Estava desde março sem médico.

Além do sacrifício para pagar os elevados salários, as prefeituras ainda fazem um trabalho de garimpo para encontrar alguém disposto a morar tão longe.

— A gente coloca anúncio em jornal, na internet, pega a relação de recém-formados nas universidades, liga para eles... É uma batalha — diz Penno.

Outras cidades não têm tanta sorte como Novo Santo Antônio. Vila Rica, a 1.250 quilômetros de Cuiabá, ficou o ano de 2012 inteiro sem um médico, apesar de também oferecer salários de até R$ 30 mil.

Em Mato Grosso, há uma grande disparidade na demografia médica. Cuiabá tem 18% da população do Estado, mas concentra 51% dos profissionais.

Há cerca de 20 dias, a médica Khariny Gonçalves e Silva, de 33 anos, desembarcou em Novo Santo Antônio para atuar no Programa da Saúde da Família, com uma jornada diária de oito horas, recebendo R$ 30 mil ao mês. Ela é a única médica da cidade.

— Quando vim, já tinha ideia do que ia encontrar. Os problemas estruturais no nosso PSF são imensos, mas não é diferente de nada do que já vi em outras cidades. Aqui, ao menos, é mais fácil conseguir medicamentos – relata a médica, que já trabalhou em São Paulo (SP), Salvador (BA) e Porto Velho (RO).

Formada em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, Khariny diz ter aceitado o emprego em Novo Santo Antônio mais pela tranqüilidade do que propriamente pelo dinheiro.

— Eu morava em Rondônia e trabalhava em duas cidades diferentes, em quatro empregos diferentes. Andava 120 quilômetros por dia. Em relação à minha renda, nada mudou. Mas, agora, tenho mais tranqüilidade – explica.

Nos primeiros dias em Novo Santo Antônio, Khariny e o marido Eleandro Turatti, que tem uma empresa em Rondônia, permaneceram em um hotel. Nesta semana, conseguiram encontrar uma casa para alugar.

— Tenho intenção de ficar. Aqui há muito por fazer e eu quero desenvolver meu lado empreendedor – promete a médica.

Serena na maior parte da entrevista, Khariny só ergueu a voz quando perguntada sobre a proposta do governo federal de importar médicos para atuar no interior do Brasil.

— É uma proposta vergonhosa. Há muitos médicos no Brasil. Gente como eu, formada no exterior, mas que não consegue trabalhar. Eu fiz faculdade no exterior porque, no Brasil, é muito caro estudar medicina. Por que não dar oportunidade a estes brasileiros?


De Anselmo Carvalho Pinto, país, O GLOBO

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