quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Os metalúrgicos sofrem com a economia e se afastam do PT



Antes de quebrar financeiramente e de se ver diante de uma dívida milionária, Odair da Rocha era um ex-sindicalista em ascensão. Saíra de São Paulo casado com Raquel rumo a Santo André, no ABC paulista, onde se instalou na década de 1980. A vida de metalúrgico começou ali do lado, em São Bernardo do Campo, como ferramenteiro. Ele produzia moldes de peças usadas na fabricação de carros, geladeiras ou fogões. Passou pela Karmann Ghia, depois pela Semer. Acabou na Brastemp. Nas três empresas por onde passou, Rocha progrediu. Na Brastemp, tornou-se chefe. Em 1999, fase em que a indústria começava a terceirizar seus serviços, soube que a ferramentaria onde trabalhava seria vendida. Viu ali uma oportunidade de negócios. Reuniu suas economias e, com dois amigos, investiu R$ 150 mil na compra da empresa onde batera ponto por 20 anos. Patrão, passou a supervisionar 55 funcionários, que moldavam peças. Primeiro para a própria Brastemp, depois para outros fabricantes de eletrodomésticos. Com a produção em alta, ano a ano, seu negócio dava sinais de progresso. “Até que veio a invasão chinesa”, diz ele, hoje com 59 anos.

A importação das peças asiáticas tornou-se mais atraente para as empresas que compravam de Rocha. A ferramentaria passou a declinar, e o setor de peças como um todo também. Na transição do governo Lula para Dilma Rousseff, Rocha não resistiu. Sua ferramentaria quebrou. Os funcionários foram dispensados, os carros vendidos, a sociedade desfeita. Sobrou-lhe uma conta de milhões de reais a pagar, e ele não tem o dinheiro. “Foi o momento mais triste da minha vida”, diz. “Nunca usei cheque especial. De repente, me vi devendo um valor que nem se eu vendesse tudo teria como pagar.” Falido, Rocha voltou a ser empregado, na ferramentaria de um amigo. Ela também está à beira do precipício, e ele acabou demitido no começo do ano. A casa espaçosa em Santo André é o único patrimônio que lhe restou. Rocha e Raquel, de 58 anos, vivem hoje da aposentadoria.

O setor de peças tem um poder de resistência às intempéries da economia menor que as montadoras de carros. Em momentos de crise como 2008, ajustes de produção, demissões e incentivos do governo (como a redução de impostos para a compra de carros) atenuaram os danos econômicos para as montadoras. Nenhuma delas quebrou. O mercado melhorou, e a venda de carros bateu recorde em 2012. Foram 3,8 milhões de unidades vendidas no Brasil. Em 2014, uma nova crise se alastrou na indústria automotiva, respingou nas vendas, na produção e nos trabalhadores. “No fim de junho, chegamos ao fundo do poço nas vendas”, afirma Luiz Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)...

De Vinicius Gorczeski, ÉPOCA

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