quarta-feira, 17 de julho de 2013

Caso Molina: Bolívia revista avião da FAB à procura de asilado

Na primeira semana de julho o presidente da Bolívia, Evo Morales, foi protagonista de um episódio que provocou uma crise diplomática envolvendo vários países. Morales retornava da Rússia quando teve o seu avião proibido de sobrevoar o espaço aéreo da Itália, França, Espanha e Portugal, sendo obrigado a pousar na Áustria, onde foi revistado pela Polícia Nacional. O motivo? A implacável caçada do governo americano ao ex-consultor da Cia, Edward Snowden, que denunciou o esquema de espionagem a cidadãos por  agências da Inteligência. A suspeita era de que Snowden estivesse no avião de Morales. O presidente boliviano havia passado pela mesma situação há nove meses, mas no papel de “caçador”. A “caça” foi o avião da Força Aérea Brasileira (FAB), que levava a bordo o ministro da Defesa, Celso Amorim, retornando de Santa Cruz de La Sierra, onde cumpria a agenda oficial. Policiais bolivianos entraram na aeronave com cães farejadores e fizeram uma revista cuidadosa. Motivo? O governo Morales desconfiava que no avião estivesse o senador boliviano Roger Pinto Molina, asilado na embaixada do Brasil em La Paz, há mais de um ano.
A informação, mantida em segredo pelos dois países, partiu de fontes do governo brasileiro, que também comentaram sobre uma carta emita pelo Itamaraty à Morales, repudiando a atitude radical do governo boliviano. A resposta veio com um simples pedido de desculpa. O motivo da visita de Amorim ao país foi para acertar as negociações de doação de helicópteros da FAB para o combate ao narcotráfico nas fronteiras dos países. E foi justamente questões relacionadas ao narcotráfico que levou o senador oposicionista Roger Pinto Molina a pedir asilo político ao Brasil. Ele procurou a embaixada brasileira no dia 28 de maio de 2012, afirmando sofrer perseguições do governo de Evo Morales. O senador da oposição é acusado em 20 processos judiciais movidos pelo poder público, após denunciar que funcionários do alto escalão do governo boliviano estavam envolvidos com o narcotráfico. A presidente Dilma Rousseff concedeu o pedido de asilo ao político, mas Morales recusa até hoje o salvo-conduto para que Molina deixe a embaixada em liberdade. Com isso, o senador permanece confinado.
Em março desse ano, os dois países tentaram resolver o caso através de uma comissão bilateral, mas a embaixada foi afastada das negociações, que seguem sob a responsabilidade de diplomatas em Brasília. Contrapartida, Morales reagiu criticando a atuação do embaixador brasileiro Marcel Fortuna Biato. A ministra da Comunicação boliviana, Amanda Dávila, chamou Biato de “porta-voz da oposição”, em resposta ao pedido do diplomata que solicitou ao poder público uma solução rápida para o caso. Já a presidente do Senado, Gabriela Montaño, comentou que Biato estava transformando a embaixada do Brasil em “refúgio de delinquentes”.
Os comentários geraram uma crise diplomática e o governo brasileiro transferiu o embaixador de La Paz para a Suécia. A medida foi tomada, por coincidência, após a visita do chanceler brasileiro, Antonio Patriota ao ministro da Presidência boliviano, Juan Ramón Quintana, para debater pautas sobre assuntos comerciais, migratórios e de combate ao narcotráfico. Rumores nos meios diplomáticos dão conta de que o governo boliviano solicitou mudanças na representação da embaixada brasileira. A embaixada da Suécia no Brasil confirma a autorização formal para a transferência de Biato, que deve ocupar o cargo em Estocolmo.


De Cláudia Freitas, JORNAL DO BRASIL

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