BRASÍLIA - Se fosse possível resumir em uma mesma denominação todas as
siglas partidárias em atividade atualmente no país, talvez um bom nome
fosse Partido da Família S/A. De Norte a Sul do país, os partidos
políticos brasileiros de todos os tamanhos são dominados por grupos
familiares que, em muitos casos, são bem remunerados para comandar essas
legendas e fazer todo tipo de negociação — da política a arranjos
financeiros. Levantamento realizado pelo GLOBO nos 30 partidos
registrados oficialmente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encontrou
pelo menos 150 parentes em cargos de direção nas legendas. São cônjuges,
irmãos, pais, tios, primos que ocupam os principais postos de comando,
como presidentes, vice-presidentes, secretários-gerais e tesoureiros. E
muitos deles fazem dos partidos sua principal fonte de sustento,
tornando-se políticos profissionais. Nos partidos menores, com pagamento
em dinheiro público do Fundo Partidário, clãs familiares tornam-se os verdadeiros donos das siglas, dominando-as por mais de 20 anos.
Às vezes, os pagamentos aos parentes ocorre de forma indireta:
dirigentes que recebem como consultores da própria agremiação que
dirigem; diretores que alugam os próprios imóveis como sede partidária; e
carros de luxo comprados para dirigentes. As despesas dos partidos,
inclusive os salários de familiares e amigos, são pagas com o dinheiro
de um cofre que distribuirá neste ano mais de R$ 300 milhões: o Fundo
Partidário. Isso sem contar as multas, que acrescem importante valor a
essa cifra.
Para cientistas políticos que estudam a história
partidária brasileira, o cenário atual apenas consolida o comportamento
de políticos em outros períodos. Desde a Colônia, a política é dominada
por famílias, que veem nessa atividade uma forma de ascender ao poder,
mantê-lo e enriquecer.
— Essa é uma característica que já chamava a
atenção dos viajantes que por aqui estiveram no período colonial, no
Império e na República. É o patrimonialismo praticado de forma deslavada
— analisa o professor Paulo Roberto da Costa Kramer, cientista social
da Universidade de Brasília (UnB)...
De Chico de Gois. jornal o GLOBO
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