domingo, 20 de janeiro de 2013

Como a conta de luz mais barata extermina o patrocício ao esporte a cultura e a programas sociais


Luz mais barata "corrói" verbas sociais

A conta de luz ainda não está mais barata, mas a medida, que se transformou numa das principais promessas da presidente Dilma Rousseff, já tem efeitos colaterais.

Para compensar a perda de receita com a diminuição das tarifas, as estatais elétricas estão cortando investimentos em patrocínio social, esportivo e institucional.

Em troca da renovação das concessões, as empresas do setor aceitaram receber tarifas menores pela energia, que vai ficar 20,2% em média mais barata para o consumidor a partir do próximo mês.

A medida foi anunciada pela presidente no último 7 de Setembro. Desde então, a redução da conta de luz passou a ser tratada como prioridade pelo governo.

Com a previsão de menos dinheiro em caixa, as empresas estão cortando despesas que não estão diretamente relacionadas à produção e à transmissão de eletricidade.

CLUBES DE FUTEBOL

A Eletrosul anunciou em seu site que haverá "ações contingenciais" devido à redução das tarifas. "Cancelamos para o ano de 2013 os editais de Patrocínio Social e Institucional, além de outras parcerias", informou.

Os times catarinenses de futebol Avaí e Figueirense, assim como outras modalidades esportivas e instituições sociais financiadas pela Eletrosul, terão patrocínios suspensos. No ano de 2014, informa a empresa, não haverá "quaisquer patrocínios relacionados às leis Rouanet e de Incentivo ao Esporte".

Contabilizando um impacto negativo de 15% na receita total com a medida provisória que antecipou a renovação das concessões, a Eletronorte definiu metas para reduzir custos.
Entre elas, cortou 50% dos recursos previstos para patrocínios em seu planejamento anual e admite que ainda pode diminuir o apoio a projetos sociais neste ano.

SEM RENOVAÇÃO

A maior companhia de energia elétrica da América Latina, a Eletrobras, assegurou recursos apenas para os projetos que se localizam em regiões onde têm empreendimentos em construção, como hidrelétricas.

Extraoficialmente, contudo, a empresa tem informado aos parceiros que o valor dos repasses será reduzido ou que projetos já em curso dificilmente serão renovados.
Sem o patrocínio da Eletrobras, iniciativas como a de apoio a mais de 800 crianças vítimas de violência doméstica e sexual em São Gonçalo (RJ) estão demitindo profissionais e limitando o atendimento aos casos mais graves (leia texto ao abaixo).

A CGTEE, companhia de geração térmica com sede no Rio Grande do Sul, reduziu quase à metade as verbas de patrocínio que atendem, principalmente projetos culturais de teatro e música.

No site, a companhia (que faz parte do sistema Eletrobras) avisa que, "por questões administrativas internas", os editais de patrocínio para este ano ainda não estão disponíveis.

HOSPITAL REPASSADO

A Chesf, companhia do rio São Francisco, que produz, transmite e comercializa energia, é outra estatal do grupo Eletrobras que anunciou a suspensão, por tempo indeterminado, de recebimento de propostas de patrocínio.

A empresa também negocia a transferência de instalações para o Executivo local. No início do mês, foi assinado documento para repassar um antigo clube à Prefeitura de Recife, que pretende montar um centro comunitário.

Em 2014, a Chesf também deve passar ao governo do Estado e à Universidade Federal do Vale do São Francisco, um hospital que mantinha em Paulo Afonso, na Bahia.
A manutenção do hospital é de R$ 29 milhões ao ano, segundo carta assinada por João Bosco de Almeida, presidente da Chesf, à qual a Folha teve acesso.


De Fernanda Odilla, Julia Borba, Dimmi Amora, de Brasília, Jornal FOLHA DE SÃO PAULO

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